sexta-feira, 26 de maio de 2017

O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NO GERENCIAMENTO DE PROJETOS - Por Walker Z. Bastos Filho

FILHO, Walker Z. Bastos [1]

1. As organizações e a questão ambiental

A questão ambiental esta fazendo cada vez mais parte do cotidiano das organizações. A elas é atribuída a responsabilidade do projeto, da produção, da disponibilização ao consumidor até próprio descarte dos seus produtos. As empresas adotam a ecoeficiência estrategicamente para crescer e prosperar nessa nova conjuntura mundial. Sobre esta questão podemos verificar:

Conseguir crescer, lucrar e, ao mesmo tempo, fechar ciclos produtivos de maneira virtuosa dependerá, em grande medida, de seguir à risca os princípios da ecoeficiência -- um conceito que foi popularizado no início da década de 90 por Stephan Schmidheiny, bilionário suíço criador do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD). Em sua definição mais abrangente e ambiciosa, uma empresa ecoeficiente seria capaz de prosperar garantindo o menor impacto ambiental possível em todas as etapas de seu processo: da concepção do produto à sua fabricação, chegando até ao modo como ele será descartado pelo consumidor. (HERZOG, 2007:18)

Tratar estrategicamente as questões ambientais, sociais e econômico-financeiras de forma sustentável pode representar para as empresas um importante diferencial competitivo. Mano (2007:4) descreve tal afirmativa com base na opinião de Michael Porter e exemplifica com um case da Toyota:

Em recente artigo publicado pela Harvard Business Review, o americano Michael Porter, um dos maiores especialistas em estratégia empresarial da atualidade, mostra que o conceito de sustentabilidade -- que se apóia nos aspectos ambiental, social e econômico-financeiro -- deve ser visto como uma oportunidade de negócio e ser levado ao centro da estratégia das companhias. Algumas empresas já começam a ocupar esses novos espaços. A japonesa Toyota é um dos melhores exemplos. O modelo Prius, lançado em 1997, com motor que funciona com base em um sistema híbrido de eletricidade e gasolina, conseguiu não apenas diminuir a emissão de gases tóxicos como também garantir à montadora uma enorme vantagem competitiva. Segundo ele, a ruptura causada pelo aquecimento global pode representar uma fonte de inovação e de vantagem competitiva.

Neste novo contexto mundial o cliente tem papel um fundamental na definição da estratégia organizacional e na pressão sócio-ambiental exercida sobre as empresas. Ao não se atentar a esta mudança na consciência organizacional elas pode estar negligenciando possíveis oportunidades de mercado advindas dos consumidores cada vez mais exigentes em relação ao impacto dos produtos no meio ambiente. Tal fato pode ser constado través da pesquisa feita pelo Instituto Akatu:

Uma pesquisa do Instituto Akatu, [...], revelou que 74% dos brasileiros querem comprar produtos que não degradem o meio ambiente. [...] “O que era um nicho de mercado hoje é uma exigência”, afirmou o diretor do Akatu, Hélio Mattar. O consumidor nunca teve tanto poder. “Ao fazer boas escolhas, nós influenciamos uma cadeia de indústrias e fornecedores cuja política ambiental determina o futuro da vida no planeta”, diz Mattar. (ARINI, 2008:66)

Ambientalmente responsáveis não só pelas suas ações, mas também pelo impacto ambiental dos seus produtos e serviços, às organizações passam a substituir a abordagem gerencial convencional pela uma abordagem gerencial consciente, onde a conscientização ambiental vai interagir como uma serie de fatores gerando novas premissas organizacionais. Tal mudança pode ser vista através da tabela 1:

Tabela 1: Mudanças na empresa através da conscientização ambiental
Fonte: Adaptado de Robles (2006:24)

Conforme esta nova abordagem as empresas procuram tratar o meio ambiente como sendo uma oportunidade para os seus negócios e não um problema como era visto até bem pouco tempo.

Neste novo prisma da questão ambiental, ao estudarmos o envolvimento das ONGs e dos movimentos sociais que eram vistos como algo nocivo aos negócios das empresas (ao impedirem a realização de determinados projetos ou a disponibilização de produtos e serviços, os quais em tese poderiam prejudicar o meio ambiente), agora estes se tornam parceiros das corporações no chamado “lobby verde”, o qual pressiona governos e parlamentos e se alia aos consumidores objetivando aprimorar as práticas, aumentar a lucratividade e melhorar a sua imagem juntamente com a preservação ecológica. Sobre o “lobby verde” Pimenta descreve:

Operando principalmente por meio de entidades de classe, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e em parceria com ONGs, o lobby verde corporativo busca influenciar os parlamentares e o governo como um todo. "Nesse campo, as empresas e os setores mais modernos da economia têm três interesses principais, todos legítimos: aprimorar suas práticas, ganhar dinheiro e melhorar sua imagem", diz Eduardo Carlos Ricardo, diretor da Patri Políticas Públicas [...] (PIMENTA, 2008:44)

Verificamos também que existem pressões contrarias ao “lobby verde” por parte de algumas empresas. Constatamos que estas organizações contrárias a medidas ambientalmente responsáveis podem despertar a antipatia dos seus consumidores, o que influenciaria negativamente no seu próprio lobby. Tal afirmativa pode ser descrita e exemplificada através do seguinte texto:

Considerados referência mundial em termos de lobby, os Estados Unidos têm os mais poderosos grupos de pressão no setor ambiental, sejam eles formados por ONGs ou advogados especializados no tema. Segundo uma recente reportagem da revista Newsweek, por causa do lobby da indústria petrolífera e dos pecuaristas que o estado do Texas se tornou o mais poluído do país. Tal título deve ser atribuído à influência de empresas como a Exxon Mobil, sediada na cidade de Houston, que tem feito lobbies bem-sucedidos até mesmo contra programas estaduais de incentivo à instalação de painéis de energia solar em residências. O maior problema de movimentos como o da Exxon é que cada vez mais as empresas que se mostram contrárias a medidas ambientalmente responsáveis ganham a antipatia dos consumidores -- um efeito colateral que pode jogar por terra o trabalho de qualquer lobista. (PIMENTA, 2008:45)

Na tabela 2 foi feito um levantamento através de diversas fontes bibliográficas (referenciadas na própria tabela), de diferentes tipos organizações, as quais tem investido no desenvolvimento de produtos e em programas ambientalmente responsáveis:

Tabela 2: Empresas que investem no desenvolvimento de produtos e em programas ambientalmente responsáveis.
Fonte: Desenvolvida com base em MANSO (2008), HERZOG (2007), HERZOG (2008), TEIXEIRA (2006), TEIXEIRA (2008), MANO (2008), PIMENTA (2008), ARINI (2008), REIS (2006).

As empresas estão procurando se adaptar a nova realidade organizacional, onde as questões ambientais não podem ser desprezadas. Neste contexto as corporações procuram ser ecoeficientes trabalhando todos os aspectos que envolvem desde a concepção dos seus produtos e serviços até o final do seu ciclo de vida, assim bordando de forma ambientalmente consciente todas as suas atividades buscando atender aos seus clientes e mitigando quaisquer impactos ambientais.

2. A importância da gestão ambiental na gerência dos projetos

As pressões ambientais estão levando a mudanças de atitudes por parte dos governos, das organizações e dos consumidores. O gerenciamento de projetos é uma das áreas empresariais afetadas por estas mudanças devido ao desenvolvimento de novos produtos.

Para Slack (2002:125) com os temas de proteção ambiental tornando-se cada vez mais importantes, os projetistas devem considerar cada vez mais as questões “verdes” em seu trabalho.

Nesta ótica os gerentes de projeto deveriam considerar ainda na fase de planejamento questões como o atendimento a legislações ambientais vigentes, o impacto dos seus produtos no meio ambiente e os aspectos econômico-ambientais ligados à gestão dos projetos.

2.1. Atendimento a legislações ambientais vigentes

Ao realizarmos o gerenciamento ambiental dos projetos devemos considerar os aspectos legais do projeto e os possíveis impactos ambientais que este pode vir a causar ao meio ambiente.

A pressão por leis mais rígidas é uma realidade que não pode ser ignorada. Segundo Pimenta (2008:44) atualmente, cerca de 80 projetos de lei de cunho ambiental tramitam na câmara e no senado brasileiro.

Em 1997 foi criado no Brasil o licenciamento ambiental para prevenir impactos ambientais nocivos provenientes da implementação de determinados tipos de projetos ou da atividade exercida por uma organização.

O licenciamento ambiental que se trata de um procedimento administrativo através do qual o órgão ambiental analisa a proposta para implantação do projeto e o legitima, estabelecendo as condições, restrições e medidas de controle ambiental para o seu funcionamento e operação. Pimenta (2007:40) descreve que desde 1997, a lei determina que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) licencie todos os projetos que incluam dois ou mais estados, estejam em terras ou rios federais ou em áreas de fronteira. Em obras menos complexas, a licença fica a cargo de órgãos estaduais ou municipais.

Com o aumento das exigências legais e da pressão ambiental, determinados tipos de projetos como os de infra-estrutura passaram a depender estudos e relatórios específicos como o EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e o Rima (Relatório de Impacto Ambiental), para obtenção de autorização das suas atividades por parte do governo. Tal fato gerou um mercado de empresas que auxiliam os projetos, no que tange a gestão ambiental e na obtenção de certificações, estudos e relatórios legais. Sobre esta questão Pimenta constata:

Nos últimos anos, as exigências legais, a pressão dos grupos ecológicos e a retomada de grandes projetos de infra-estrutura criaram um novo mercado verde para as empresas que produzem os estudos de impacto exigidos pelo governo, os EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental - Relatório de Impacto Ambiental), e executam os projetos de gestão ambiental. (PIMENTA, 2007:40)

O Brasil tem tido avanços significativos no que tange a preservação ambiental através da sua legislação vigente. Os fatores ambientais já estão sendo decisivos para implementação ou não de determinados projetos. Esta tendência deve se intensificar nas diferentes áreas de atuação, dos diversos tipos de organizações, as quais deverão gerir seus projetos de forma sustentável. A respeito da evolução brasileira nesta conjuntura internacional Pimenta explicita:

Em termos de preservação, o Brasil está a meio caminho entre os Estados Unidos e a China. Com leis mais rígidas e grupos ecológicos mais ativos, os americanos mantêm um alto escrutínio sobre novos projetos. Apesar de apoiada pelo governo Bush, a perfuração de novos poços de petróleo numa área de preservação do Alasca foi barrada pelo Senado americano. Já na China, a construção de Três Gargantas desalojou quase 2 milhões de pessoas e alagou relíquias das dinastias Ming e Qing. "No Brasil, de agora em diante, o fator ambiental vai ditar o destino dos projetos", diz Ayres da Costa. "Se não for sustentável, será um mau negócio e não irá adiante”. (PIMENTA, 2007:42)

2.2. Impacto do produto no meio ambiente

Ao gerenciarmos um projeto podemos analisar os possíveis impactos ambientais dos produtos que estão sendo desenvolvidos.

Cabe ao gerente do projeto coletar as informações necessárias para adequar o escopo produto as necessidades do cliente de forma que esta seja atendida e ao mesmo tempo não incorra em possíveis rejeitos nocivos ao meio ambiente, o que poderia inviabilizar o projeto por intermédio da legislação ambiental vigente. Slack descreve estas restrições da seguinte forma:

Em muitos países desenvolvidos, a legislação já providenciou alguns padrões básicos que restringem o uso de materiais tóxicos, limitam descargas poluentes no ar e na água e protegem os funcionários e o público de prejuízos de curto e longo prazo. A maior parte dessas restrições afeta tanto o projeto e a operação de processos como o projeto dos próprios produtos. (SLACK, 2002:125)

Para Slack (2002:126) os projetistas se confrontam com compromissos complexos entre esses fatores, embora não seja sempre fácil obter toda a informação necessária para fazer as “melhores” escolhas. Por exemplo, é relativamente fácil projetar um produto longa vida, usando material forte, componentes superdimensionados, ampla proteção contra corrosão e assim por diante. Sua produção, entretanto, usa mais materiais e energia e poderia gerar mais rejeitos.

Para que o produto final do projeto seja considerado não agressivo ao meio ambiente, com a possibilidade de ao final do seu ciclo de vida poder ser reciclado não gerando rejeitos durante o seu desenvolvimento e posteriormente nas etapas de produção, comercialização, o gerente de projeto pode realizar uma análise dos componentes que irão fazer parte deste produto. Tal processo pode ser chamado de análise do ciclo de vida do produto como é citado por Slack:

Para ajudar a tomar decisões mais racionais no processo de projeto, alguns setores estão experimentando a análise do ciclo de vida. Essa técnica analisa todos os investimentos iniciais da produção, o ciclo de vida, o uso do produto e seu descarte final, em termos da energia total usada (e, mais recentemente, de todos os rejeitos emitidos. Como dióxido de carbono, gases sulfurosos e nitrosos, solventes orgânicos, rejeitos sólidos, etc.). As entradas e rejeitos são avaliados em cada etapa de sua produção, começando com a extração ou produção das matérias-primas básicas. (SLACK, 2002:126)

Ao ser realizado o trabalho de identificação dos possíveis impactos ambientais dos componentes do produto e do seu ciclo vida, o gerente de projetos busca atender aos requisitos do cliente e ao mesmo tempo ter a visão de que forma este produto será recebido pelo mercado e viabilizado legalmente, assim evitando possíveis restrições que poderiam chegar a inviabilizar o próprio projeto.

2.3. Aspectos econômico-ambientais na gestão de projetos

A questão ambiental vem influindo diretamente nos aspectos econômicos das organizações. Devido às mudanças de legislação e de comportamento por parte dos consumidores as empresas tendem a rever suas decisões de investimento em determinados projetos buscando que estes sejam sustentáveis. Para isso as corporações estão aumentando progressivamente os seus orçamentos ambientais. A respeito desta questão Pimenta sita:

“Os orçamentos ambientais aumentaram pelo menos 50% desde 2000", diz Sérgio Leão, diretor de meio ambiente da Odebrecht. (PIMENTA, 2007:41)

O crescimento da pressão ambiental sobre as os negócios das organizações não significar necessariamente em perdas econômicas, existindo uma possibilidade da criação de novas oportunidades de negócio como o do desenvolvimento de novas tecnologias e fontes de energia. Teixeira (2006:25) descreve que a preocupação com o ambiente não significa necessariamente pisar no freio da economia. Pelo contrário. Somente o mercado de novas energias vai movimentar meio trilhão de dólares anuais na metade do século. De olho nesse retorno futuro, os maiores fundos de investimentos do mundo estão plantando agora. Os aportes de capital em energias limpas passaram de 30 bilhões de dólares em 2004 para 63 bilhões neste ano. Estima-se que o volume deve ultrapassar os 100 bilhões de dólares anuais a partir de 2010.

O fenômeno do aquecimento global é um exemplo da questão ambiental que traz possíveis riscos negativos ou positivos as empresas, consumidores e governos. Os riscos negativos vão desde o aumento dos custos relativos à prevenção da poluição até a queda no consumo. Já os riscos positivos apontam para o crescimento de mercado e o investimento em projetos ligados a novas tecnologias. Na tabela 3 são evidenciados alguns dos números ligados ao possível preço da elevação da temperatura no mundo.

Tabela 3: O preço do aquecimento global
Fonte: Adaptado de TEIXEIRA (2006:24)

Como demonstrado na tabela 3, as organizações em diferentes setores da economia estão adequando os seus negócios a nova realidade ambiental. As empresas buscam investir ambientalmente nos seus projetos com o intuito de desenvolver novos produtos, novas fontes de energia, logo diminuindo a poluição e não perdendo o foco nas oportunidades de mercado ocasionadas pelas questões ambientais.

3. Identificando a Gestão Ambiental no PMBOK

Neste item procuramos verificar de que forma o PMBOK (PMI, 2013) trata da gestão ambiental nos projetos.

Na área do conhecimento de gerenciamento de riscos do projeto temos a descrição do que é um possível risco ao projeto:

O risco do projeto é um evento ou condição incerta que, se ocorrer, provocará um efeito positivo ou negativo um ou mais objetivos do projeto tais como escopo, cronograma, custo e qualidade. (PMI, 2013:310)

Com base no que já foi estudado podemos dizer que determinados aspectos ambientais poderão gerar riscos, os quais deverão influenciar sobre na restrição tripla do projeto. Verificamos tal ocorrência no exemplo abaixo:

Um risco pode ter uma ou mais causas e, se ocorrer, um ou mais impactos. Uma causa pode ser um requisito, premissa, restrição ou condição potencial que crie a possibilidade de resultados positivos ou negativos. Por exemplo, as causas podem incluir o requisito de uma autorização ambiental para o trabalho, ou limitações de pessoal designado para planejar o projeto. O risco é que a agência responsável pela autorização possa demorar mais do que o planejado para conceder a autorização ou, no caso de uma oportunidade, pessoal adicional de desenvolvimento possa ficar disponível para participar do planejamento e seja designado para o projeto. Se um desses eventos incertos ocorrer, pode haver um impacto no escopo, custo, cronograma, qualidade ou desempenho do projeto. (PMI, 2013:310)

Verificamos que a área de gerenciamento dos riscos contempla a identificação e o controle de possíveis riscos ambientais no projeto, mas não engloba os demais aspectos inerentes a gestão ambiental como a sua política, o planejamento, a implementação e operação, a análise crítica e a melhoria continua, conforme o modelo de sistema de gestão ambiental da NBR ISO 14001 (2004) demonstrado através da figura 1.

As demais áreas do conhecimento do PMBOK (PMI, 2013) estudadas não trouxeram referências que possam englobar os demais aspectos inerentes à gestão ambiental citados anteriormente.

Pesquisamos também a presença dos seguintes termos ligados à gestão ambiental no PMBOK (PMI, 2013):

a)    Meio ambiente;
b)    Sistema da gestão ambiental;
c)    Política ambiental;
d)    Objetivo ambiental;
e)    Meta ambiental;
f)     Aspecto ambiental;
g)    Impacto ambiental;
h)   Prevenção de poluição;
i)     Desempenho ambiental;
j)      Sustentabilidade;
k)    Ecoeficiência.

Foi encontrado no PMBOK (PMI, 2013:15) o termo sustentabilidade, o qual foi utilizado conforme texto:

Visto que o sucesso do projeto pode ser julgado com base no nível de apoio do produto ou serviço à governança organizacional, é muito importante que o gerente de projetos seja bem versado em políticas e procedimentos de governança corporativa/organizacional relacionadas com o produto (p.ex., se uma organização adotar políticas em apoio a práticas de sustentabilidade e o projeto envolver a construção de um novo prédio de escritórios, o gerente de projetos deve estar ciente dos requisitos de sustentabilidade relacionados com a construção do prédio.)

Não foram encontradas no PMBOK (PMI, 2013) referências ou citações aos seguintes termos ligados à gestão ambiental:

a)    Meio ambiente;
b)    Sistema da gestão ambiental;
c)    Política ambiental;
d)    Objetivo ambiental;
e)    Meta ambiental;
f)     Aspecto ambiental;
g)    Impacto ambiental;
h)   Prevenção de poluição;
i)     Desempenho ambiental;
j)      Ecoeficiência.

4. O Sistema de Gestão Ambiental no Gerenciamento de Projeto

O sistema de gestão ambiental visa administrar todos os aspectos ligados ao meio ambiente em que a organização esta inserida com base numa sólida política ambiental. Segundo a NBR ISO 14001 a definição para um sistema da gestão ambiental (SGA):é:

Sistema da gestão ambiental (SGA): a parte de um sistema da gestão de uma organização utilizada para desenvolver e implementar sua política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais. (NBR ISO 14001, 2004:2)

Na figura 1 é demonstrado o modelo de sistema de gestão ambiental, o qual se baseia no conceito do ciclo PDCA para melhoria contínua:

Figura 1: Modelo de sistema da gestão ambiental
Fonte: NBR ISO 14001 (2004:VI)

Sobre o PDCA a NBR ISO 14001 destaca:

[...] Esta Norma é baseada na metodologia conhecida como Plan Do Check Act (PDCA)/(Planejar–Executar–Verificar–Agir). O PDCA pode ser brevemente descrito da seguinte forma:
- Planejar: Estabelecer os objetivos e processos necessários para atingir os resultados em concordância com a política ambiental da organização.
- Executar: Implementar os processos.
- Verificar: Monitorar e medir os processos em conformidade com a política ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros, e relatar os resultados.
- Agir : Agir para continuamente melhorar o desempenho do sistema da gestão ambiental. [...] (NBR ISO 14001, 2004:VI)

A norma recomenda que o programa de gestão ambiental de uma organização trate quando apropriado e exequível de todo ciclo de vida dos seus produtos ou serviços, ou seja, desde o planejamento, passando pela etapa de projeto até a sua produção, comercialização e descarte. Esta constatação é ser descrita no texto:

Recomenda-se que o programa inclua, quando apropriado e exeqüível, considerações de planejamento, projeto, produção, comercialização e estágios da disposição final. Isto pode ser efetuado tanto para as atividades, produtos ou serviços atuais quanto para os futuros. No caso de produtos, podem ser abordados projetos, materiais, processos produtivos, uso e disposição final. Para instalações ou modificações significativas de processos, podem ser abordados o planejamento, projeto, construção, comissionamento, operação e, na ocasião apropriada determinada pela organização, o descomissionamento. (NBR ISO 14001, 2004:15)

Ao adotarmos o SGA no gerenciamento de projetos esperamos que os aspectos ambientais sejam identificados e administrados de forma sustentável, através otimização do consumo de recursos, prevenção da poluição, melhoria do relacionamento com órgãos fiscalizadores e licenciadores, não perdendo o foco no cumprimento do projeto e conseqüentemente o atendimento das necessidades dos seus clientes. 

5. A Integração do Sistema de Gestão Ambiental com os demais Sistemas

O sistema de gestão ambiental da NBR ISO 14001 pode ser considerável compatível ao da qualidade da NBR ISO 9001, pois ambos trabalham com base a metodologia do ciclo PDCA para melhoria continua dos seus processos. Esta interação é explicitada da seguinte forma:

[...] Muitas organizações gerenciam suas operações através da aplicação de um sistema de processos e suas interações, que podem ser referenciados como “abordagem de processo”. A ABNT NBR ISO 9001 promove a utilização da abordagem de processo. Como o PDCA pode ser aplicado a todos os processos, as duas metodologias são consideradas compatíveis. (NBR ISO 14001, 2004:VI)

Tanto a NBR ISO 14001 quanto a NBR ISO 9001 trazem em seu corpo um texto informativo, o qual ressalta que ambas as normas podem ser integradas com diversos outros tipos de sistemas além dos especificados por elas. Tal fato pode ser referenciado com base nas seguintes descrições:

Esta Norma não inclui requisitos específicos de outros sistemas da gestão, tais como aqueles para qualidade, segurança e saúde ocupacional, finanças ou gerenciamento de risco, muito embora seus elementos possam ser alinhados ou integrados com os de outros sistemas da gestão. (NBR ISO 14001, 2004:VII)

Esta Norma não inclui requisitos específicos para outros sistemas de gestão, tais como aqueles específicos à gestão ambiental, gestão de segurança e saúde ocupacional, gestão financeira ou de risco. Entretanto, esta Norma possibilita a uma organização o alinhamento ou a integração de seu sistema de gestão da qualidade com outros requisitos de sistemas de gestão relacionados. É possível a uma organização adaptar seus sistemas de gestão existentes para estabelecer um sistema de gestão da qualidade que cumpra com os requisitos desta Norma. NBR ISO 9001 (2008:3)

Como verificamos o PMBOK (PMI, 2013) trata do aspecto da identificação e do controle de possíveis riscos ligados à gestão ambiental no projeto, mas não contempla os demais como a política, o planejamento, a implementação e operação, a análise crítica e a melhoria continua do sistema de gestão ambiental. Ao integrarmos os sistemas da qualidade e ambiental procuramos suprir esta lacuna no gerenciamento dos projetos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT. NBR ISO 9000:2005 Sistemas de gestão da qualidade – fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

ABNT. NBR ISO 14001:2004 Sistema de gestão ambiental. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

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VALLE, André Bittencourt do; SOARES, Carlos Alberto Pereira; FINOCCHIO JR., José; SILVA, Lincoln de Souza Firmino da. Fundamentos do gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro: FGV, 2007.




[1] Walker Zacharias Bastos Filho, é Bacharel em Engenharia de Produção pela UNIVERSO - Universidade Salgado de Oliveira; Bacharel em Administração pela FRB - Faculdade Ruy Barbosa/DeVry; MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos pela FGV - Fundação Getulio Vargas e pela Ohio University; PMP – Project Management Professional; Auditor Líder da Qualidade - ISO 9001; Auditor Líder Ambiental - ISO 14001; Auditor Líder de Segurança e Saúde Ocupacional - OHSAS 18001. < www.walkerbastos.com.br >